domingo, 12 de setembro de 2010

Cegueira

Um tópico que me deixa bem curioso é o questionamento da nossa existência. O velho clichê do "de onde vinhemos e para onde vamos?". Tenho refletido muito sobre isso ultimamente, levando em conta as inúmeras opiniões controversas dos grupos à minha volta. Cada um representando a sua própria verdade. E o que tem gerado essa diversidade de focos? Religião.

Ao contrário do que muitos devem pensar, não sou um ateu e desacreditado de tudo. Me esforço para não cair no rótulo de agnóstico, mas se eu for analisar a maneira que eu penso, acabo caindo neste grupo mesmo.

O assunto da religião tem me incomodado muito nos últimos meses. Seja por curiosidade ou para buscar "verdades", procuro ouvir a opinião dos diversos grupos que convivo sobre o que eles pensam sobre esse lance de seguir a metodologia imposta por uma religião… e o que esses grupos pensam sobre os demais. Tenho concluído, ao ouvir tantos relatos, que estas pessoas nem sabem direito o que elas mesmas defendem. Sem ofenças... nada pessoal.

Tenho amigos evangélicos, católicos, judeus, espíritas, ateus e alguns com pontos de vista que eu nem sei como definir. A parte engraçada (não consegui termo melhor - mais justo? - para definir) é que eles tentam me convencer que a verdade está em suas respectivas religiões, doutrinas, ou seja lá como denominam isso. Todos usam argumentos muito convicentes para que eu acredite neles naquele momento e enxergue os outros como defensores de pensamentos falsos. Só isso já é o suficiente para me deixar chocado. Sim: chocado, e não confuso.


Se cada um está me vendendo uma verdade, em qual acreditar?

Existe uma resposta-padrão para a maioria dos nichos religiosos: que eu vou descobrir tal verdade e revelação por conta própria. Mas não consigo ser tão cego e passivo assim. Se um evangélico vem e me vende sua verdade, dizendo que já teve provas da existência de uma força superior… de outro lado já vem um judeu e me diz, de forma detalhada, que o "salvador" não veio há 2 mil anos atrás, mas que ele ainda vai chegar. Resumindo: todos me garantem que estão falando a verdade. Bom.. então alguém tem que estar mentindo ou sendo enganado, certo? Quem vai dar o braço a torcer?

O que acontecerá com todos os outros que acreditam e pregam verdades não-verdadeiras? Estão condenados a um péssimo fim? Essas pessoas tem culpa de terem crescido numa cultura que influenciou sua forma de pensar daquele jeito? Um filho de pastor tende a herdar as crenças do pai, assim como alguém que cresceu em uma cultura islâmica, tende a seguir, naturalmente, esta crença. O espiritismo prega a idéia do carma, da reencarnação. Alguns dizem que isso é até coisa do capeta.

Vai ver, não sou evoluido espiritualmente o suficiente para desembaralhar essas nuances (ou seria o contrário?), mas por enquanto só consigo ter uma péssima impressão de quem se diz fiel demais a uma determinada crença, fechando os olhos para novas possibilidades. Posso estar falando pura asneira, porém, recuso a acreditar que somente parte da população conheça a revelação e que o resto um dia vai se foder, condenado ao sofrimento.
Certa vez alguém me disse que, independente da crença que eu adotasse, o importante era ter fé em algo. Que algo? Algo que eu nem posso saber se é verdade? Para supostamente dar um sentido à minha vida, eu tenho que criar uma realidade onde eu acredite em algo que talvez nem exista? Acho que ninguém deveria tentar me fazer "ver a luz". Até agora tudo ainda é suposição pra mim, e não existe prova nenhuma para separar o grupo dos que estavam certos dos que estavam errados.

As igreja$ criam um efeito placebo nas pessoas. E mesmo se, um dia, eu assumir que tudo que foi escrito aqui é estupidez minha e encontrar um significado para tudo (ou algo próximo disso), tenho certeza absoluta que minha fé não será praticada dentro de uma instituição. Dificilmente um dia vou ver sentido em ter que frequentar uma estrutura física (feita pelo homem) e pagar dízimos que eu nem sei pra onde vão.

Esta reflexão é para deixar claro que, quanto mais tentam me convencer a seguir uma doutrina e queimam o filme das outras, menos eu acredito no que me dizem. Primeiro, devem entrar num acordo entre eles, sobre quem está com a razão...

Existem zilhões de realidades - tudo depende do referencial. Você não acha muita pretensão exatamente a sua ser correta e absoluta?

domingo, 4 de julho de 2010

A Arte de Mandar Mal

Este post tem uma função diferenciada dos outros posts escritos aqui, até então. Desta vez, o único culpado do relato a seguir é... eu mesmo.

Há alguns anos atrás, não muito distantes, me matriculei em um curso de férias, no período Dezembro-Fevereiro. Tinha acabado de sair do Ensino Médio e resolvi ocupar o tempo até o início das aulas da faculdade. Não muito animado com o rítmo das aulas, costumava ir pra lá praticamente arrastado - já que estava pagando.

Depois de algumas semanas de aula, é comum as pessoas criarem liberdade para interagirem em maior frequência com as outras. Provavelmente com base nesta teoria, eis que surge na cadeira do meu lado uma garota dona de um semblante simpático. E começa a puxar conversa. A aula, como sempre, estava intragável, então as 4 horas que vinham pela frente deveriam ser espaço para muita conversa. Deveriam.

Após alguns minutos de conversa, a garota veio me perguntar aonde eu fiz meu ensino médio. Respondi e, naturalmente, perguntei o mesmo pra ela. Estávamos com um clima descontraído e tranquilo de diálogo.

A transcrição que vem a seguir é uma reprodução quase que fiel da versão original. Acreditem, eu não esqueci.

Eu: -Estudei no Leonardo da Vinci, e você?

Ela: -Ah, eu estudei no ********.

Eu: -Ih, sério? Então você deve conhecer uma pessoa BEM famosa lá. (Já esboçando um sorriso cretino)

Ela: - Ué... devo ter conhecido, se você diz ser TÃO famosa...

Eu: - Na verdade, nem eu a conheço, mas ela é o assunto de todos os colégios aqui. A garota é quase onipresente.

Ela: - E o que faz essa menina tão popular?

Eu: - Na verdade, ela não vale porra nenhuma. Se eu fosse você nem andava com ela. Todo dia vem alguém falar "daquela vadia do Objetivo", que dá mais que chuchu na serra, e eu ouço esses comentários de professores, alunos, amigas, ex-amigas, ex-namorados. Não tem um único cristão que queira se manter próximo dessa doida aí, então ela deve ser barra pesada mesmo, né? haha

Ela: - Nossa!

Eu: - Pois é, pra você ver o naipe... Ah, e o nome dela é Denise! Fiquei sabendo que ela acabou o terceiro ano agora também, então é certeza que você conhece.

Ela: - É... o meu nome é Denise.



Moral da história: pergunte o nome antes de qualquer coisa.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A cena Pseudo-Cult-Alternativa-Indie-Nerd

A razão deste post deve-se a um acontecimento que presenciei há um pouco mais de um ano atrás:

Por algum motivo que eu também não sei qual é, acabei indo a um debate sobre filmes que estava rolando no Setor Hoteleiro, em Brasília. Pulando detalhes desnecessários para o texto, lá estava eu na platéia, em alguma poltrona aleatória. Logo de cara, já percebi que a vestimenta do público presente tinha lá suas semelhanças estéticas. Cachecol, muitas estampas xadrez nas roupas, trench coats, óculos de armações grossas, calças torando, chapéus, etc.

Nada contra as peças, o que me incomodou mesmo foi ver todo mundo vestido do mesmo jeito para um evento que aparentemente não carecia de nenhuma, digamos, cerimônia. Então você começa a teorizar se aquilo seria um encontro de amigos, um flash mob, ou, sabe-se lá, uma seita.

Passado meu momento de ingenuidade e ignorância, lógico que me caiu a ficha que eu estava em um nicho pseudo-cult.


Intrigado com aquela reunião de clones, continuei a observar. Eis que surge o absurdo: um deles saca subitamente uma cuia de chimarrão. E esse chimarrão começa a viajar pelo auditório, de mão em mão e boca em boca. E todos faziam questão de tomar, como se fosse um ato quase religioso. Centenas deles. Neste instante, você já começa a procurar por câmeras escondidas, por pontos nos ouvidos (seriam atores?) e até mesmo pelo Sérgio Malandro surgindo de trás das cortinas gritando que é uma pegadinha. Mas era tudo real.

A forçação de barra pra ser diferente, alternativo, cult, indie, ou sejá lá como você chama, faz as pessoas agirem como se seguissem uma cartilha. Alguma tábua de mandamentos que você deve seguir para ser um pseudo-intelectual. E esse ato do chimarrão passando de beiças em beiças desconhecidas, para mim, é a simbologia suprema deste movimento. Confirmo isso porque foi tudo muito artificial.

Os símbolos estão em todos os lugares: café da Starbucks é mais um exemplo. Eu respeito quem toma porque gosta. Mas tornou-se mais um artefato pseudo-cult-mamãe-quero-ser-nerd. Com a chegada da franquia em Brasília, quantos personagens não tomarão conta das praças de alimentação discutindo um filme francês tipo B? São estes mesmos personagens que gostam de tomar capuccino na Fnac, passear de cachecol durante o meio-dia torrando no sol do cerrado e usar óculos Wayfarer. Não tenho absolutamente NADA contra roupas com textura xadrez. O problema é que essa galera parece um tabuleiro de jogos ambulante. Dá pra jogar ludo, xadrez, damas. Sério, não sabem medir a dosagem das coisas. Quando não é o xadrez, então usam roupas de camiseterias alternativas, com nomes fazendo sátiras a filmes, diretores e bandas.

Ah, os filmes. Um pseudo-cult é um exímio fã do cinema francês. Mesmo que ele tenha assistido apenas "O fabuloso destino de Amélie Poulain" (que todo mundo já assistiu), vai arrotar nas rodas que conhece vários outros filmes. Mesmo que tenha decorado essa lista no www.imdb.com. Não se prendendo só ao francês, vale lembrar que um pseudo-cult gosta de todos os filmes do Almodóvar, sendo o filme de fato bom ou ruim.

Na discografia, podemos achar desde Belle & Sebastian até Cansei de Ser Sexy (sim, CSS tem um significado quase que subversivo para eles). Não ouvem somente o "popular", evidentemente. São fãs de carteirinha da cena underground-indie de Brasília, gostando de bandas com nomes geralmente sem significado algum, como por exemplo "O Mosquisto de Godah no Pântano da Luxúria" (ok, eu inventei o nome, mas não vai demorar muito para surgir uma banda indie por aí com alcunha semelhante). Suas participações nas redes sociais também são de intrigar: álbuns com fotos "vintage" dominam.

Com tanta rotulação, o engraçado é saber que o tal termo indie, nas suas origens, é conhecido com o a ausência de estilo. E os que batiam no peito com orgulho por não se encaixar em nenhum estilo pré-fabricado, mal percebem que estão na mesma panela. Por fim, antes de sofrer retaliações (e se sofrer, foda-se), eu não tenho implicância com as músicas, roupas, etc aqui citadas (mas continuo, sim, implicando com a calça-mamãe-fiz-cocô-saruel). O que eu acho medonho é a forma que forçam para fazer parte de um "elenco, criando uma lista de ações, um roteiro de como se deve vestir, falar, pensar, fingir e viver para passar a imagem de "alternativo" para os outros. Várias dessas pessoas aparentam encenar durante o dia inteiro. Até os assuntos soam forçados e artificiais. Estaria eu no Show de Truman?